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“Muitos horários a cumprir e estava sempre atrasado para alguma coisa”, foi assim que Rui Bragança conseguiu, com sucesso, vencer na carreira dual: foi estudante na Universidade do Minho ao mesmo tempo que representava, e ainda representa, as cores lusas além fronteiras. Também com sucesso. Sucedem-se as medalhas internacionais, sejam elas académicas ou federativas, mesmo quando a Federação Portuguesa de Taekwondo não ajudava muito e teve de ir para Espanha para “conhecer outras realidades dentro do taekwondo”.
Destacar alguns pódios é sempre um risco, mas nós na Kombat Press somos dos desportos de combate. Rui Bragança, para além dos títulos nacionais, foi duas vezes Campeão da Europa, tem uma prata e um bronze em Campeonatos do Mundo, foi também duas vezes Campeão Europeu Universitário, somando-se aqui mais duas pratas e um bronze…
Participou nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 e está a trabalhar para o apuramento dos, já adiados para 2021, Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 (o nome deverá manter-se igual).
KP: Qual a vitória mais saborosa que já tiveste? Porquê?
RB: Há muitas felizmente. Mas medalhas nos europeus e mundiais são sempre incríveis.
KP: Como concilias a vida profissional com a desportiva?
RB: Neste momento tenho a sorte de ser atleta profissional. Quando era estudante e atleta, tinha muitos horários a cumprir e estava sempre atrasado para alguma coisa.
KP: Como é a tua rotina de treinos?
RB: Treino todos os dias, duas vezes por dia. Normalmente descanso ao domingo.
KP: O que motivou a tua mudança para Espanha?
RB: Precisava de mudar e de conhecer outras realidades dentro do taekwondo.
KP: Ser atleta do SLB ajuda-te de que maneira?
RB: Juntar-me ao SLB significou poder continuar no taekwondo e estar a lutar por uma qualificação para os jogos. Sem o SLB seria praticamente impossível estar tão dedicado ao taekwondo como estou.
KP: É do conhecimento geral que a Federação Portuguesa de Taekwondo tem parcos recursos. Como financias as tuas idas constantes ao estrangeiro em competição?
RB: O Comité Olímpico é o outro pilar com o qual posso estar dedicado a 100% ao taekwondo e fazer todo o calendário competitivo.
KP: Habitualmente contas com a companhia da Joana, do Júlio e do Nuno. Três palavras para descrever este “quarteto fantástico” do taekwondo português.
RB: Companheirismo, divertido e desenrascado.
KP: Depois da participação nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, Tóquio 2020 é um objetivo para ti esta época; como viveste o impasse relativo à qualificação e realização dos jogos devido à pandemia Covid-19?
RB: Não é fácil ter a vida planeada até agosto de 2020 e de repente esses planos têm de ser completamente alterados, ainda por cima sem saber sequer quando vai ser a qualificação. No entanto é continuar a treinar e esperar para ver o que vai acontecer.
KP: Os Jogos Olímpicos não são novidade para ti. Como descreves a experiência do Rio de Janeiro?
RB: Foi incrível. Por um lado, já conhecia a realidade de jogos multidisciplinares como as Universíadas e os Jogos Europeus, mas nos JO tudo é maior e mais espetacular. Sem dúvida algo que me marcou para a vida.
KP: Qual a tua maior qualidade?
RB: Otimista
KP: Qual o teu maior defeito?
RB: Preguiçoso
KP: Qual a tua comida favorita?
RB: Rosbife
KP: Três músicas que não faltam na tua playlist…
RB: Dusty Kid – Lynchesque; Patrick Watson – Wooden Arms e Pink Floyd – Brain Damage
KP: No futuro (longínquo esperamos), quando deixares de ser atleta, vais seguir a carreira de médico?
RB: Sem dúvida que sim, são seis anos da minha vida que investi e pretendo dar seguimento.
Entrevista: Joana França/Kombat Press
Fotos: DR
Agradecimento: Rui Bragança
Na entrevista de hoje falamos com um senhor doutor. Sim, um médico. E também pode ser um “doutorado em taekwondo”, isto porque atualmente é um dos nomes mais sonantes do taekwondo nacional na vertente de combate. Já teve D. Afonso Henriques ao peito e agora tem a águia Vitória, isto depois de passar pela Associaçao de Taekwondo do Koryo e pelo ABC de Braga. Vamos saber um pouco mais sobre o vimaranense Rui Bragança.
KP: O que te levou a escolher o taekwondo como modalidade de eleição?
RB: Tinha passado por vários desportos, saindo por uma coisa ou por outra... Fui parar ao taekwondo por acaso.
KP: Houve algum outro desporto que te cativasse antes do taekwondo?
RB: Andebol e BTT.
KP: Como podes descrever “o Rui” enquanto criança?
RB: Como agora, sempre a sorrir.
KP: Quais as tuas referências dentro e fora do tatami?
RB: Fora do tatami, Ayrton Senna. Dentro ninguém em especial.
KP: O que mais aprecias num adversário?
RB: O que mais gosto é de um adversário tático.
KP: E o que menos gostas num adversário?
RB: O que menos gosto é de um adversário que vem para tentar aleijar-em vez de tentar jogar taekwondo.
KP: Tens alguma superstição ou amuleto antes de entrares para uma competição?
RB: Normalmente música, mas nem sempre.
(Continua amanhã)
Entrevista: Joana França/Kombat Press
Fotos: DR
Agradecimento: Rui Bragança
Nascida a 19 de outubro de 1994 em Mafamude, Vila Nova de Gaia, é em Braga que Joana encontra a sua casa académica e desportiva: a Joana começou no Clube de Taekwondo Lobos Negros e atualmente representa o Sporting Clube de Braga; é licenciada em Gestão e está no último ano do Mestrado em Engenharia Industrial, no ramo de Logística e Distribuição. A Ju, Joaninha ou Jackie é uma verdadeira “guerreira do Minho”: é a menina que tem de aturar sozinha os “três rapazes do taekwondo nacional” …
KP: Habitualmente contas com a companhia do Júlio, do Rui e do Nuno. Três palavras para descrever este “quarteto fantástico” do taekwondo português.
JC: Fácil: tiram-me do sério. Estou a brincar!!! Eles conseguem ser muito chatos, mas também existem dias em que eu consigo ser mais insuportável do que eles os três juntos. Basicamente acho que passamos tanto tempo juntos que fomos obrigados a gostar uns dos outros (estou a brincar outra vez!). São parte da minha família e eles sabem o quão a família é importante para mim.
KP: Foste uma atleta regular nas Universíadas, como descreves essa competição?
JC: É uma experiência diferente, convivemos com outros atletas de diferentes nacionalidades e modalidades e, acima de tudo, vivemos mais intensamente tudo o que se passa na Comitiva Portuguesa, como se fossemos uma grande equipa. A primeira vez que participei, em 2015, foi muito especial porque ganhei a medalha de prata e, na edição seguinte em 2017, tive a honra de ser a porta estandarte na cerimónia de abertura. No ano passado participei na minha última Universíada e, embora não me tenha “despedido” com o resultado que ambicionava (perdi no ponto de ouro nos oitavos de final), dei o meu melhor e estou feliz com o meu percurso nesta grande prova.
KP: O ser mulher, num universo tendencialmente de homens, alguma vez te condicionou?
JC: Felizmente nunca senti que tinha perdido alguma oportunidade pelo facto de ser mulher. Acho que atualmente essa discrepância de sexos já não é tão percetível e existem referências femininas muito fortes no taekwondo mundial.
KP: Jogos Olímpicos são um objetivo para ti esta época; como viveste este impasse relativo à qualificação e realização dos jogos devido à pandemia Covid-19?
JC: A nossa prova de apuramento continental está adiada para maio, em Moscovo. Por esse motivo continuamos com o mesmo objetivo em mente e a treinar nas condições que são possíveis, para estarmos na melhor condição física.
KP: Como recebeste a notícia do adiamento dos jogos? Que alterações é que isso traz ao teu planeamento de treinos e competições?
JC: Na minha opinião o adiamento era a única decisão sensata a ser tomada tendo em conta a situação que todo o Mundo está a viver. A saúde vem sempre em primeiro lugar e neste momento a prioridade tem de ser mesmo essa: zelar pelo bem-estar de todos nós. Acho que esta deve ser a opinião da maioria dos atletas, visto que nos encontramos numa fase de adaptação e não é possível treinar nas melhores condições. No presente momento, o taekwondo tem a data do apuramento europeu adiada para maio e por isso continuo a realizar o plano de treino que o meu treinador me mandou, para estar na melhor condição física possível quando esse momento chegar.
KP: Qual a tua maior qualidade?
JC: Considero-me uma boa amiga, faço sempre o que posso para ver os meus amigos felizes.
KP: E qual o teu maior defeito?
JC: Tenho o hábito de deixar tudo para a última, embora consiga cumprir com os prazos e os objetivos, na maioria das vezes.
KP: Qual a tua comida favorita?
JC: Arroz de pato.
KP: Três músicas que não faltam na tua playlist…
JC: Bicep – Glue, Lissie – Pursuit of Happiness e Dead Combo – Esse olhar que era só teu
KP: No futuro (longínquo esperamos), quando deixares de ser atleta, onde te poderemos encontrar?
JC: No presente momento não tenho nada planeado, ainda existem algumas incógnitas na equação… Temos mesmo de esperar para ver!
Entrevista: Joana França/Kombat Press
Fotos: DR
Agradecimento: Joana Cunha
“Joana Cunha veste de bronze no Campeonato Europeu de Pesos Olímpicos, alcançando assim um feito histórico para o taekwondo nacional ao conquistar a primeira medalha feminina nestas competições europeias” escrevíamos nós a 29 de novembro do ano passado. Isto é só para terem um cheirinho da conversa que aí vem… Não se deixem levar pelo olho azul da Joana, mas podem por a tocar “Esse olhar que era só teu”, dos Dead Combo, para nos acompanhar…
KP: O que te motivou a escolher o taekwondo?
JC: Existia um clube de taekwondo no ginásio que frequentava e após ter experimentado uma aula, acabei facilmente por trocar o ginásio pelo taekwondo.
KP: Houve algum outro desporto que te cativasse antes do taekwondo?
JC: Antes do taekwondo pratiquei atletismo e andebol no desporto escolar.
KP: Como podes descrever “a Joana” enquanto criança?
JC: Passei a maior parte da minha infância em casa dos meus avós, em Pedroso, que era onde os meus pais me deixavam (a mim e ao meu irmão) antes de irem para o trabalho. Tenho imensas recordações desses tempos e posso afirmar que a pequena Joana era muito brincalhona, bem-comportada o q.b. e, acima de tudo, tinha muito amor e era muito feliz.
KP: Quais as tuas referências dentro e fora do tatami?
JC: O Pedro Póvoa vai ser sempre uma grande referência para todos os que praticam a modalidade. Além dele, e como iniciei a prática da modalidade num período de mudança para o novo tipo de jogo que atualmente se vê, destaco os meus colegas de treino. Conseguiram adaptar-se rapidamente e, mesmo assim, continuam a ser uma referência a nível mundial pelos resultados incríveis que têm atingido. A nível internacional a minha atleta favorita é a Wu Jingyu, bi-campeã olímpica que, após um resultado inesperado no Rio 2016, parou de competir. Foi mãe, regressou às competições e já garantiu o apuramento para os Jogos de Tóquio. Fora do tatami, a minha maior referência será sempre a minha família, pelo “simples” facto de serem o melhor que eu podia pedir.
KP: O que mais aprecias num adversário?
JC: Que tenha respeito pelo outro.
KP: O que menos gostas num adversário?
JC: Não gosto que façam coisas que não se deve, de propósito. Por exemplo, bater abaixo da zona permitida ou agarrar para pontuar. Coisas que normalmente resultariam em falta, mas que os árbitros nem sempre conseguem ver.
KP: Tens alguma superstição ou amuleto antes de entrares para uma competição?
JC: Costumo colocar-me numa posição que me permita focar e abstrair do que se passa à minha volta, durante alguns segundos, e “dou” um beijo à minha avó.
KP: Qual a vitória mais saborosa que já tiveste? Porquê?
JC: Quando fui Campeã da Europa Sub-21. Chegar ao topo do pódio e ouvir o hino é uma sensação única. Essa vitória deu-me mais confiança nas minhas capacidades e vontade de melhorar para atingir melhores resultados.
KP: Como concilias a vida académica com a desportiva?
JC: Desde que me mudei para Braga que tenho conseguido conciliar muito bem a minha vida académica com a desportiva. A Universidade do Minho ajuda-nos bastante para sermos bem-sucedidos em ambas as áreas e, além disso, tenho a sorte de ter amigos, parceiros de treino e treinadores que estão sempre dispostos a ajudar no que for necessário.
KP: Como é a tua rotina de treinos?
JC: Treino duas vezes por dia de segunda a sexta e uma vez ao sábado de manhã.
KP: Sabemos que a Federação Portuguesa de Taekwondo tem parcos recursos. Como financias as tuas idas constantes ao estrangeiro em competição?
JC: Devido à situação em que a Federação se encontra, atualmente, são os clubes ou os próprios atletas que suportam todos os seus gastos. Em 2017 o Sporting Clube de Braga financiou a minha ida ao Campeonato do Mundo, onde obtive o 5ºlugar que me permitiu integrar o Projeto Olímpico Tóquio 2020 e assim ter o suporte do Comité Olímpico de Portugal na preparação para os Jogos.
(Continua amanhã)
Entrevista: Joana França/Kombat Press
Fotos: DR
Agradecimento: Joana Cunha
Continuamos com o “jabof”, o Júlio do Taekwondo. Quase 1.90 metros e 80 kg de taekwondo com tantos troféus em Opens e Grand Prix Internacionais que a quarentena era curta para os enumerar. Trocadilhos à parte, o nosso arquiteto minhoto tem defendido as cores lusas de forma exemplar, quer em competições europeias federativas quer nas académicas ao mais alto nível.
KP: Foste um atleta regular nas Universíadas, em 2015 em Gwangju, 2017 em Taipé e 2019 em Nápoles, onde foste medalha de bronze. Como descreves essa competição?
JF: Fantástico ambiente, um nível extremamente exigente e um sentimento de família como nunca antes experienciado.
KP: Nas Universíadas de Taipé sofreste uma pequena lesão no pé, competindo lesionado. A superação faz parte do perfil de um atleta de topo, como tu?
JF: É imprescindível! É nos momentos de restrição que o número de soluções cresce. É exatamente quando se ultrapassa os limites físicos que a visão de jogo, o timing e o sentido de oportunidade evolui.
KP: Os Jogos Olímpicos eram um objetivo para ti esta época; como viveste o impasse relativo à qualificação e realização dos jogos devido à pandemia Covid-19?
JF: Recolhido e a treinar dentro dos possíveis. Neste momento estamos todos preocupados com a gravidade da situação que assola o mundo e, por consequência, as competições dos próximos meses foram canceladas e no presente momento não é certo o local nem a data do Torneio de Apuramento para o Jogos. Mas o objetivo mantém-se e a vontade é a mesma, não há tempo a perder nem espaço para retrocessos. De certa forma, inverte-se o problema da questão anterior, quando o físico não era a solução procurava-se o timing e a visão de jogo; neste momento, não sendo possível experienciar o combate, tem de haver um trabalho físico individual e teórico de jogo: visualizar situações, estudar atletas e, tal como faço antes do combate, “ver” as soluções e as surpresas.
KP: Como recebeste a notícia do adiamento dos jogos? Que alterações é que isso traz ao teu planeamento de treinos e competições?
JF: Recebi a notícia com agrado pela noção de que a proteção e saúde de todos os atletas e espetadores do maior evento desportivo do planeta foram salvaguardadas, num momento em que vivemos no resguardo e num incógnito futuro. Claro que existe aquela ansiedade de participar nos jogos à qual queria corresponder este ano, mas é totalmente compreensível as razões para tal não acontecer. A reação é agora de planear os treinos e competições futuras em vista da nova data. Para já, penso que é preciso sair a data do pré-olímpico. Esse vai ser o grande objetivo antes dos jogos e, para que em 2021 possa estar em Tóquio, será preciso vencer essa prova. Quanto aos treinos, a preparação está a ser feita em casa, com a mesma carga que era feita antes da quarentena geral, e é dessa forma que se pretende trabalhar no futuro. Claro que o contacto físico é algo extremamente importante para o desenvolvimento da capacidade no jogo, e daí espero que os responsáveis pela nova data encontrem uma de acordo com tempo necessário para assegurar que todos os países tenham um bom período para se prepararem devidamente.
KP: No futuro (longínquo esperamos), quando já não levantares as pernas à altura do taekwondo, onde te poderemos encontrar?
JF: Principalmente o futuro tem Arquiteto escrito em letras grandes, se possível no meu próprio escritório a desenvolver as minhas ideias. No taekwondo imagino-me como treinador de competição, mas esse futuro penso que ainda se encontra longe. Fora isso, a arquitetura puxa-nos a estudar a sociedade, a cultura e as artes, por isso quem sabe não sai algo de outra área que não as esperadas.
KP: Qual a tua maior qualidade?
JF: Observador
KP: Qual o teu maior defeito?
JF: Preguiçoso
KP: Qual a tua comida favorita?
JF: Cabrito Assado da Mãezinha
KP: Três músicas que não faltam na tua playlist…
JF: Pigs (Three Different Ones) do album Animals dos Pink Floyd; Dance Yourself Clean do album This is Happening dos LCD Soundsystem; This Must Be the Place do album Speaking in Tongues dos Talking Heads e Frágil do album Só do grande Jorge Palma.
Entrevista: Joana França/Kombat Press
Fotos: DR
Agradecimento: Júlio Ferreira
Bracarense de gema, arquiteto do seu próprio jogo, criando um estilo ímpar e imprevisível que advém da sua capacidade de observação e de projetar coisas no espaço. A arquitetura ao serviço do taekwondo. Os valores do taekwondo ao serviço da saúde e educação. Uma carreira dual com apoio e reconhecimento da FADU e do COP. Já têm pistas suficientes para saber de quem falamos? Claro que sim, até porque está no título! Júlio Alexandre Bacelar Oliveira Ferreira.
KP: Hoje em dia és um dos atletas nacionais de taekwondo mais reconhecido. Como foi o início, como chegaste ao taekwondo?
JF: Em criança era um belo traquina e cheio de energia ou irrequieto. Por aconselhamento da médica de família, os meus pais consideraram que levar-me a experimentar uma arte marcial seria uma bela forma de desfazer a estamina que tinha. Devo dizer que foi um dos pilares, não só no controlo energético, mas na minha educação devido aos valores que uma arte marcial, ensinada pelas pessoas certas, pode incumbir aos mais novos.
KP: Houve algum outro desporto que te cativasse antes do taekwondo?
JF: Na altura não tinha nenhuma modalidade em interesse, tal como disse, o taekwondo começou por ser um aconselhamento médico. Talvez a modalidade que saltasse mais ao ouvido fosse o futebol, mas apenas por ser praticamente o único desporto que com aquela idade se prestasse atenção.
KP: O que mais nos podes dizer sobre “o Júlio” enquanto criança?
JF: Bem… Aquilo que me lembro é de fazer asneiras, levar reprimendas, ser meio preguiçoso e de ser um aluno mediano/bom na escola. Não saía muito à rua para brincar, então acabava por me entreter sozinho, fosse a desenhar ou a criar cenários com os bonecos e restantes brinquedos que tinha.
KP: Quais as tuas referências dentro e fora do tatami?
JF: Sempre que se fala de referências, são notórios OS atributos que as valorizam, seja no Taekwondo, na Vida ou na Arquitetura. Mas principalmente são características que se tornam únicas pela forma como as usaram nas suas respetivas áreas e, por isso, sou alguém que valoriza quem transcende a partir dos seus próprios atributos. Daí, e devido à enorme cegueira e preguiça que dispunha na minha adolescência, desenvolvi o meu estilo de jogo de forma a ser mais esquivo e estranho, pois distraía os adversários e assim conseguia encontrar aberturas que não via quando as procurava através da técnica, velocidade ou força, atributos nos quais nunca fui excelente. Por isso, as minhas referências passam por olhar para mim, escolher os objetivos que desejo e entender de que forma os posso atingir. Dito isto, no taekwondo português referencio o Pedro Póvoa, o Mário Silva e o Rui Bragança exatamente pela capacidade de entenderem as suas aptidões e explorá-las a um nível incomparável. Fora, venero aqueles que me conseguem mostrar uma forma diferente de ver o Mundo.
KP: O que mais valorizas num adversário?
JF: Respeito e inteligência a trabalharem em conjunto. Um bom jogo tem a ver com entender a situação e o anular ou encontrar uma solução que se sobreponha, não por desconsideração do adversário.
KP: Por outro lado, o que menos aprecias?
JF: Desrespeito…
KP: Tens alguma superstição ou amuleto antes de entrares para uma competição?
JF: Penso que após a rotina, aquecimento, música, comida, o mais importante para eu entrar num combate, na ZONE, preciso de visualizar, de perceber as características do adversário e ver-me a vencê-lo, a marcar pontos e a sofrer, ver-me frio e sem reações emocionais perante surpresas.
KP: Qual a vitória mais saborosa que já tiveste? Porquê?
JF: A da repescagem para medalha de Bronze nos Jogos Europeus de Baku 2015. Foi o maior palco e a melhor experiência competitiva da qual já fiz parte. Para repetir!
KP: No ano passado foi melhorado o estatuto atleta-estudante, incentivando a FADU (Federação Académica do Desporto Universitário), entre outras entidades, a uma carreira dual. Como concilias a vida académica com a desportiva?
JF: Treinar sempre fez parte da minha rotina: a minha vida sempre passou por estudar durante o dia e ao final da tarde treinar. Quando entrei para a universidade, as competições tornaram-se mais assíduas e a partir daí existiu uma enorme ajuda pela Universidade do Minho com o programa Tutorum, fosse na reposição de aulas ou exames, uma maior facilidade na justificação de faltas e a compreensão dos professores. Por fim, a entrada no Projeto Olímpico permitiu-me acalmar as obrigações que tinha para com os meus pais, acabar o curso e tornar-me independente. A bolsa possibilitou-me focar mais nos objetivos competitivos que desejava.
KP: Como é a tua rotina de treinos?
JF: Todos os dias faço treinos bidiários, com exceção do domingo. Treino uma hora de manhã, num dia físico no seguinte técnico/tático específico, e uma hora e meia à noite de técnico/tático.
KP: Como é do conhecimento geral, a Federação Portuguesa de Taekwondo tem parcos recursos e atravessou um período algo sombrio, erguendo-se agora. Como financias as tuas idas constantes ao estrangeiro em competição pela seleção nacional?
JF: Atualmente pertenço Projeto Olímpico: a cada atleta é atribuída uma bolsa anual para despesas na preparação e apuramento para os Jogos Olímpicos, seja alimentação, inscrições, viagens, estadias, materiais e fisioterapia. Não fazendo parte do Projeto, o meu clube, o Sporting Clube de Braga, ajuda nas despesas que os atletas tenham nas competições e fornece os serviços que o clube dispõem de apoio ao desporto.
KP: Habitualmente contas com a companhia da Joana, do Rui e do Nuno. Três palavras para descrever este “quarteto fantástico” do taekwondo português.
JF: Irreverência, no sentido de lutar pelo melhor caminho para o futuro; incansável, pelo tempo que dão ao desporto com uma constante vontade de evoluir; e surreal, pela capacidade de adaptação que a geração de ouro do taekwondo português teve e tem de ultrapassar.
(Continua amanhã)
Entrevista: Joana França/Kombat Press
Fotografia de destaque: Marco Mendez Photographer
Fotos: DR
Agradecimento: Júlio Ferreira
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