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Sabias que o Jorge Caeiros foi o primeiro karateca luso a conquistar uma medalha no Open de Paris? E sabias que a equipa que integrou, juntamente com o Luís Silva e o Pedro Monteiro, foi a primeira a alcançar uma medalha na K1? E uma prova de kata que durou mais de sete horas? O Caeiros partilha connosco alguns desses momentos já de seguida…
KP: Qual a vitória mais saborosa que já tiveste? Porquê?
JC: Sem dúvida a medalha de bronze da K1 Paris em 2015. Foi uma prova muito dura, durou mais de 7 horas pois eram mais de 100 atletas de elite mundial a competir. Lembro-me perfeitamente que o momento decisivo nessa competição foi quando venci a Malásia na 3ª ronda, um dos atletas favoritos a ganhar a medalha nessa prova. Acabei por chegar à meia-final, ao fim de seis duras rondas, na qual cedi contra o Japão, mas sabia que naquele dia o bronze não me ia fugir. E quando venci a medalha contra Itália só me lembro de correr e saltar para as bancadas, abraçar a minha mulher, estar rodeado pela minha equipa que me apoiou incondicionalmente durante horas e ter uma grande sensação de missão cumprida
KP: E quela competição, nacional ou internacional, que não esqueces? Porquê?
JC: Felizmente tive uma carreira em que consegui ser o primeiro português a atingir determinado objetivo. Destaco alguns desses momentos: a 1ª medalha do Open de Paris em kata – 2010; a 1ª medalha de ouro numa Taça da Europa ESKA - 2007 (júnior) e 2010 (sénior); a 1ª medalha numa K1 em equipa, juntamente com os meus colegas Luís Silva e Pedro Monteiro (Alemanha 2012).
Mas também nunca irei esquecer daquela vez que me sagrei campeão nacional com o meu filho bebé de quatro meses a assistir da bancada. Ele não se vai lembrar, mas eu nunca me irei esquecer.
KP: Como concilias a vida profissional com a desportiva e familiar?
JC: Com muita disciplina e dedicação. Mas é duro. O dia é mais comprido do que muitas vezes nós pensamos, se formos disciplinados no nosso dia-a-dia e muito organizados a nível de horário conseguimos arranjar tempo para tudo. Ou melhor, e para ser sincero, quase tudo. Muitas vezes o tempo de lazer fica para segundo plano. O tempo de estar simplesmente refastelado no sofá acaba por muitas vezes desaparecer. Mas em sua substituição consigo arranjar tempo de conciliar o alto rendimento e a representação do meu país, tempo para estar a brincar com o meu filho e jantar com a minha mulher e ainda ter um trabalho full-time em engenharia informática. Isso muitas vezes implica ter de sair de casa perto das 9 da noite para ir fazer a última sessão de treino, acordar às 6h00 da manhã para ir treinar, ser sempre muito focado nas sessões de treino pois estão contadas e planeadas ao minuto e andar sempre a correr de um lado para o outro. Mas sei que vale a pena pois só é possível ser desportista até uma certa idade. Tenho o resto da vida para descansar.
KP: Como se chama o teu filho e quantos anos tem?
JC: O meu filho chama-se Miguel e vai fazer dois anos em agosto. Sou bastante sortudo, é um miúdo 5 estrelas, saudável, brincalhão, bem-disposto e com uma energia sem igual. Só estou mesmo à espera que me deixe dormir à noite para os treinos matinais não custarem tanto.
KP: Como é a tua rotina de treinos?
JC: Treino karate todos os dias de manhã, de 2a a 6a, das 7:15 às 8:45, antes de ir trabalhar. 3as e 5as ao final do dia faço os meus treinos de ginásio e de preparação física. Sábados e domingos, durante a época, ou estou em estágio de seleção regional, nacional ou estou em competição. Nos poucos fins-de-semana que tenho livres, faço apenas um treininho físico na manhã de sábado.
KP: Tu que és um dos principais “kateiros” nacionais, como podes descrever o que é uma kata?
JC: Kata é um combate. É importante que quando estamos a executar cada movimento estejamos a sentir exatamente isso. Que cada ataque, que cada defesa, que cada técnica desferida seja como se fosse para um oponente. Na minha opinião é importante que os atletas de kata tenham contacto com a parte de combate para sentirem exatamente isso, daí que o treino da aplicação da kata (chamado bunkai) seja tão importante, na minha opinião.
KP: Porque optaste pela vertente de kata?
JC: Eu fiz ambas as disciplinas (kata e kumite) até aos 20 anos e tinha resultados nacionais em ambas. Mas sempre tive mais apetência para kata e, em discussão com a equipa técnica, acabei por me focar exclusivamente nessa vertente pois em sénior e para o panorama internacional é necessária especialização. Olhando para trás, foi sem dúvida a escolha correta.
KP: Qual o teu segredo para manter a concentração durante a execução de uma kata com um pavilhão repleto a olhar para ti?
JC: Esses momentos são os que eu mais adoro. Nesses momentos, em que o silêncio assola o pavilhão e sinto todos os olhos postos em mim, simplesmente deixo de pensar e só desfruto do momento, porque é mesmo para aquele momento que treino diariamente. São momentos de grande adrenalina, mas são mesmo aqueles que valem a pena.
KP: Os Jogos Olímpicos são um objetivo para ti esta época; como tens vivido estas incertezas relativas à qualificação devido à pandemia Covid-19?
JC: Como atletas temos de nos focar nas variáveis que conseguimos controlar. Esta pandemia de COVID-19 tirou todo o controlo não só aos atletas, mas à população em geral. Mas os jogos têm nova data, verão de 2021. A porta dos jogos não está fechada e, portanto, é cerrar os dentes e preparar o corpo e a mente para fazerem tudo o que for possível para agarrar um dos pouquíssimos lugares que restam.
KP: Qual a tua maior qualidade?
JC: Determinação
KP: Qual o teu maior defeito?
JC: Sou muito impaciente.
KP: Qual a tua comida favorita?
JC: Costeletas de borrego grelhadas com puré de batata feito pela mamã.
KP: Três músicas que não faltam na tua playlist…
JC: Not Afraid (Eminem), Till I Collapse (Eminem) e Moth Into Flame (Metallica)
KP: No futuro, quando deixares de ser atleta de competição, onde te poderemos encontrar?
JC: Karate é para a vida. O período de competição é apenas uma fase do percurso como karateca. Vou continuar ligado à modalidade como praticante e, quem sabe se um dia, a partilhar todo o meu conhecimento com uma nova geração de atletas.
Entrevista: Joana França/Kombat Press
Fotos: DR
Agradecimento: Jorge Caeiros
Os títulos nacionais conquistados já não cabem nas duas mãos. Praticante de karate desde os 5 anos, Jorge Caeiros soma 11 títulos nacionais em kata. Mas sabiam que, até aos 20 anos, o “Sr. Kata” também fazia kumite? Para além de ser um especialista a desenhar katas nos tatamis, o Caeiros é também arquiteto de sistemas informáticos a full time e pai do Miguel de quase dois anos. E no meio de tudo isto arranjou um tempinho para falar connosco e partilhar muitas das suas fotografias que eternizam a sua carreira desportiva.
KP: O que te motivou a escolher o karate como modalidade?
JC: Acho que foi um bocado o querer ser como o meu pai. O meu pai tinha sido praticante durante vários anos e acho que foi um bocado por isso que acabei por pedir para começar. Após eu começar, ele voltou a sentir o “bichinho” e acabou por continuar a sua prática e, desde então, tem estado sempre do meu lado a ensinar-me tudo o que consegue e a apoiar-me, incondicionalmente, em todas as provas.
KP: Houve algum outro desporto que te cativasse antes do karate?
JC: Fiz ginástica e natação quando era criança, mas foi mais por brincadeira e para adaptações ao desporto. Desporto competitivo sempre foi karate.
KP: Como podes descrever “o Jorge” enquanto criança?
JC: Tive a sorte de ter uma infância muito feliz. Adorava brincar na rua da casa da minha avó. Passava o dia a trepar às árvores, jogar e brincar com os meus amigos quase até o sol se pôr. Era (e ainda sou) bastante esquecido, portanto dei muitas dores de cabeça aos meus pais com a quantidade de coisas que perdia no meio destas brincadeiras (chapéus de chuva, casacos, mochilas, etc… perguntem à minha mãe se quiserem a lista completa). No entanto, e graças ao karate e à disciplina incutida por esta arte marcial, no contexto escolar sempre fui bom aluno, sempre muito aplicado e focado. Fez de mim o homem que sou hoje.
KP: Quais as tuas referências dentro e fora do tatami?
JC: Referências internacionais, sem dúvida, que António Diaz e Luca Valdesi. Referências nacionais destaco alguns que vieram antes do meu tempo, outros que vi crescer como pessoas, atletas e rivais. Pessoas como Nuno Moreira, Nuno Dias, Jorge Machado, Jorge Peixeiro, Filipe Reis, Pedro Monteiro, Luís Silva, Hélio Hernandez. Fazer parte da equipa nacional lado a lado com estes grandes atletas é algo que me enche de orgulho.
KP: O que mais aprecias num “adversário”?
JC: O entrar igual-para-igual. O querer ganhar tanto quanto eu. Aquele que deixa tudo no tapete e que, acima de tudo, saiba respeitar o resultado, tanto na vitória como na derrota.
KP: O que menos gostas num “adversário”?
JC: Arrogância e o não saber ganhar. Carácter e etiqueta são ambas máximas do karate. Aqueles adversários que não cumprimentam no fim ou que faltam ao respeito antes ou depois da prova, têm falhas graves de carácter, não só como atletas de karate mas como pessoas.
KP: Tens alguma superstição ou amuleto antes de entrares para uma competição?
JC: Sim tenho; tenho umas boxers específicas para competir em competições nacionais e outras específicas para provas internacionais e de seleção. Só as uso mesmo para os dias de competição, nada mais. E parece estúpido, mas se não as usar parece que não me sinto o mesmo e parece que a competição não corre da mesma forma.
(Continua amanhã)
Entrevista: Joana França/Kombat Press
Fotos: DR
Agradecimento: Jorge Caeiros
KARATE| Campeonato Europeu| Guadalajara| Abril 2020