Para aqueles que convivem com o diabetes, monitorar os níveis de glicose no sangue é uma parte fundamental da gestão da condição. No entanto, é comum se deparar com níveis elevados de glicose em jejum, o que pode gerar confusão. Além disso, algumas pessoas notam que seus níveis de glicose em jejum podem ser mais baixos se ingerirem algo antes de dormir, o que pode parecer contraditório. Vamos explorar as possíveis razões para esses níveis elevados de glicose em jejum e os mecanismos hormonais envolvidos.
Hormônios Essenciais no Controle da Glicose
Durante o desenvolvimento do diabetes tipo 2, que pode levar anos, o controle hormonal da glicose no sangue se deteriora. Quatro hormônios desempenham papéis cruciais na regulação da glicose:
- Insulina: Produzida pelas células beta do pâncreas, a insulina facilita a entrada de glicose nas células para gerar energia. No diabetes tipo 2, as reservas de insulina diminuem gradualmente.
- Amiloide: Secreto pelas células beta, o amiloide reduz a liberação de glicose na corrente sanguínea após as refeições, retardando o esvaziamento do estômago e aumentando a sensação de saciedade. Pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2 são deficientes em amiloide.
- Incretinas: Incluem o peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) e são secretadas pelos intestinos. Elas aumentam a liberação de insulina após a refeição, retardam o esvaziamento do estômago e reduzem a liberação de glicose na corrente sanguínea.
- Glucagon: Produzido pelas células alfa do pâncreas, o glucagon quebra a glicose armazenada no fígado e nos músculos, liberando-a para fornecer energia quando a glicose proveniente dos alimentos não está disponível.
Funcionamento dos Hormônios no Corpo
Em indivíduos sem diabetes, o corpo regula a oferta e demanda de glicose de maneira constante, envolvendo os quatro hormônios mencionados e um sistema de feedback contínuo entre o cérebro, intestinos, pâncreas e fígado. Veja como esse sistema funciona em condições normais:
- Durante o Jejum: Quando os níveis de glicose diminuem após a última refeição, o pâncreas reduz a produção de insulina. Simultaneamente, os hormônios amiloide e GLP-1 também diminuem, enquanto o glucagon aumenta, promovendo a produção de glicose a partir das reservas armazenadas no fígado e músculos.
- Após a Refeição: A ingestão de alimentos eleva os níveis de glicose no sangue e sinaliza aos intestinos para liberar GLP-1, que estimula a produção de insulina e amiloide. Esses hormônios ajudam as células a utilizar a glicose dos alimentos. O glucagon é suprimido, pois não há necessidade de glicose adicional proveniente do fígado ou músculos. O impacto da alimentação sobre os níveis de glicose dura menos de seis horas, mesmo para refeições grandes e ricas em gordura.
O Fenômeno do Amanhecer e o Efeito Somogyi
Dois fatores adicionais podem explicar níveis elevados de glicose em jejum:
- Fenômeno do Amanhecer: Parte do ritmo circadiano natural do corpo, onde hormônios como o hormônio do crescimento e o cortisol são liberados, elevando os níveis de glicose. Em indivíduos sem diabetes, o corpo compensa esse efeito matutino aumentando a produção de hormônios que controlam a glicose. No entanto, para pessoas com diabetes tipo 1 ou tipo 2, essa resposta é inadequada, resultando em níveis elevados de glicose ao acordar.
- Efeito Somogyi: Referido como a elevação dos níveis de glicose em jejum, acredita-se que seja causado pelo fígado produzindo glicose excessiva em resposta à hipoglicemia (nível baixo de glicose) durante a noite. O efeito Somogyi é raro em pessoas com diabetes tipo 2 e há controvérsias sobre sua existência com os produtos de insulina de ação rápida e prolongada disponíveis atualmente.
Entender esses mecanismos hormonais e fatores é crucial para a gestão eficaz da glicose em jejum e pode ajudar a ajustar estratégias de tratamento para melhor controle da glicose no sangue.